O que você está lendo é um banquete preparado coletivamente pelas mãos cuidadosas de pessoas escritoras, preparadoras, tradutoras e editoras brasileiras. Também é uma série de “primeiras vezes” para a Eita! Magazine: sua primeira edição bilíngue e temática; seu primeiro financiamento coletivo e sua primeiríssima edição de 2022.
A Eita! Magazine ainda é uma criaturinha muito jovem. Com o lançamento desta edição (número 2, mas na verdade nossa terceira investida no mundo da edição de ficção SFF brasileira em inglês), estamos no mercado há apenas um ano e meio. Não é muito, mas o que conseguimos durante esse curto período de tempo é.
Com a edição #0, nossa primeira tentativa, tivemos o prazer de ter uma de nossas histórias indicadas para o Science Fiction and Fantasy Rosetta Awards 2020, na categoria Melhor obra traduzida de SFF: short-form com “The Witch Dances ”, escrito por Thiago Ambrósio Lage, traduzido por mim e editado por Marina Ferreira. Por mais que invistamos tempo e talento (tudo não remunerado) no zine e esperemos ir longe, a indicação foi uma surpresa – sim, esperávamos chegar lá, mas algum dia, não de primeira! Ainda era um projeto tão provisório que numeramos a primeira edição como #0, só por via das dúvidas.
Não tínhamos ideia de onde estávamos nos metendo. Na época, nossa equipe não tinha experiência no mercado anglófono, mal conhecíamos alguém. Éramos apenas um bando de tradutores, preparadores e editores com muita coragem e uma pitada de insanidade para começar essa coisa toda.
Infelizmente, não vencemos a categoria do Rosetta Awards, mas o que dizem sobre ser uma honra apenas ser indicado é absolutamente verdadeiro para a Eita! Magazine, especialmente de cara com a edição #0! Esse tipo de reconhecimento alimenta nossa paixão por esse projeto, e saber que nossos autores foram lidos do Japão à Europa e aos EUA também é algo que deixa realizados.
Pensar na quantidade de apoio que o zine reuniu me emociona – encontramos bons amigos internacionais em todo o mundo, brasileiros expatriados dispostos a ajudar o projeto, assinantes leais em nosso Patreon e, agora, ao nos tornarmos bilíngues, encontramos em nossa comunidade brasileira de escritores o mesmo fogo que toda a nossa equipe tem. Em menos de um fim de semana, conseguimos arrecadar 100% do dinheiro de financiamento coletivo que precisávamos para lançar esta edição. Não só isso, atingimos 175% da nossa meta e conseguimos adicionar mais um autor nessa edição!
Apesar de tudo o que o nosso país tem passado com a atual (des)administração, conseguimos manter esse projeto com o apoio das comunidades nacional e internacional, na esperança de que traga não só coisas boas para os nossos autores, mas também um pouco de consolo em tempos tão sombrios. Por meio da ficção, queremos fazer o possível para tornar essa realidade um pouco mais suportável, trazendo a diversidade na forma de diferentes vozes autorais.
Nos últimos dois anos, cerca de 37 escritores brasileiros publicaram em zines anglófonos[1]. Destes, 16 foram publicados pela Eita! Magazine em seu ano e meio ativa, cerca de 45% do total, todos bem pagos para os padrões do mercado brasileiro. Isso nos deixa muito felizes e mostra que estamos atingindo nosso objetivo de mostrar vozes brasileiras através de histórias de imaginação e incredulidade. Essa edição não é diferente.
Apresentamos um grupo diverso de pessoas escritoras de todo o país, ouso dizer o grupo mais diversificado de autoria brasileira que você vai ler em inglês (por enquanto)! Há uma história para todos os gostos: horror rural com Buchada de Frederico Toscano, uma história sobre fome ambientada no sertão profundo do Brasil; uma pitada de New Weird e fantasia com Pelas mãos de batchan de Giu Yukari Murakami, sobre memória e herança culinária; uma colherada de história de bruxa e representatividade com Casa de vó de Saren Camargo, em um cenário campestre cheio de magia caseira; uma fatia de ficção científica bem brasileira com O banquete do alienígena, de Luísa Montenegro, sobre como um grupo de brasileiros fortes recebe um visitante do espaço; uma colherada de história de fantasmas com Ventre Livre de Wilson Júnior, sobre vingança e uma cozinheira habilidosa; e, por fim, uma pitada de horror clássico com O defunto, de Thomaz Lopes, onde morte e fome se entrelaçam.
Espero que você esteja pronto para esse bacanal de histórias. Saboreie-as com atenção, cada uma tem um tempero próprio.
Iana A.
Editora-chefe
Recife, Brasil
Janeiro de 2022
[1] Segundo o Index of Brazilian SFFH Writing in English compilado por Dante Luiz.
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